“A construção metálica brasileira mostra sua resiliência e capacidade de inovação. Estamos em um novo momento de expansão e consolidação”, afirmou Steinmann.
Monteiro também destacou os desafios enfrentados pelo setor, como a necessidade de comprovar a economicidade e o custo final das obras, além da importância de bons projetos e financiamento adequado. "A industrialização da construção é fundamental para o crescimento sustentável do setor", ressaltou. A utilização de estruturas metálicas pode trazer vantagens como sustentabilidade, construtibilidade e redução de mão de obra, tornando-se uma opção cada vez mais atraente para os construtores.

O primeiro dia do Construmetal 2025 foi marcado também por debates técnicos e estratégicos nos painéis temáticos, palestras tecno-cientificas e pitchs comerciais, além de uma exposição.

Em parceria com a Next ESG, o evento neutralizou as emissões de carbono e ainda ofereceu um diferencial: os visitantes puderam compensar suas pegadas de carbono de um ano inteiro e os expositores neutralizar os estandes. Os créditos são certificados pela ONU e apoiarão projetos de preservação ambiental no Brasil.
Construmetal 2025 conta com apoio inédito das maiores siderúrgicas da América Latina
Esta edição entrou para a história ao conquistar ineditamente o patrocínio das cinco principais siderúrgicas da América Latina: ArcelorMittal, Gerdau, Usiminas, Vallourec e a mexicana Simec.
Painel 1 – A viabilidade econômica da estrutura metálica: Quando construir em aço
Durante o painel, os especialistas discutiram como avaliar a viabilidade econômica de projetos que utilizam aço e quais são os critérios importantes para considerar. A discussão abordou temas como a importância da análise de custo-benefício, a influência da sustentabilidade e a necessidade de projetos bem planejados para garantir a viabilidade econômica das estruturas metálicas.
Participaram deste painel: Daniel Ferraz, Fundador do projeto Engenheiro do Aço, como mediador. Enrico Mangoni (Engenheiro Civil na Studio Mangoni), Cezar Mortari (1º vice-Presidente do Sinduscon-GO), Márcio Castro(Sócio na Next) e Rosane Bevilaqua, (gerente de Marketing, Inovação e Business Development da Gerdau).
"Uma construção pode oferecer muitas mudanças ao longo da vida. A estrutura metálica é muito vantajosa porque é projetada para ser flexível e permite variações de forma fácil. Isso é fundamental para a sustentabilidade, pois permite adaptar e reutilizar estruturas existentes, em vez de demolir e construir novas, ressaltou Mangoni.
“Como diz um ditado americano, 'o edifício mais sustentável é aquele que já existe'. Isso faz sentido quando pensamos na sustentabilidade não apenas em termos de materiais, mas também em termos de empreendimento como um todo. É importante considerar a sustentabilidade do projeto desde o início e escolher materiais e estruturas que possam ser adaptadas e reutilizadas no futuro. As estruturas metálicas são uma ótima opção para isso, pois permitem fácil adaptação e modificação. Por exemplo, é mais fácil aumentar um tabuleiro de ponte metálica do que de uma ponte de concreto. Além disso, a importância do projetista é fundamental para garantir que as estruturas sejam projetadas de forma sustentável e eficiente”, encerrou.
De acordo com Marcio Castro, a medição da pegada de carbono de cada material é fundamental para entender o impacto ambiental de uma obra. “Ao analisar esses dados, podemos identificar oportunidades para inovar e criar soluções mais sustentáveis a longo prazo. Isso inclui não apenas a escolha de materiais, mas também a logística de transporte e desmonte, além da economia circular no final de vida do produto”, disse.
"A tecnologia pode ser uma grande aliada nesse processo, permitindo que façamos uma contabilidade mais precisa e eficaz. Ao entender melhor o impacto ambiental de nossas ações, podemos criar novos materiais e soluções mais sustentáveis. É importante entender os conceitos de escopo 1, 2 e 3, que se referem às emissões diretas e indiretas de gases de efeito estufa. Ao analisar esses dados, podemos encontrar oportunidades incríveis para reduzir nosso impacto ambiental e criar um futuro mais sustentável”, concluiu.
Painel 2 – Novas tecnologias aplicadas à cadeia produtiva da construção em aço
A construção metálica vive um momento de virada tecnológica. Esse foi o tom do painel “Novas tecnologias aplicadas à cadeia produtiva da construção em aço”, que reuniu especialistas para debater como ferramentas como BIM, realidade aumentada, inteligência artificial e IoT estão redesenhando o setor.
Mediado por Rodrigo Varejão Andreão, diretor-geral da IFES/FAPES, o encontro contou com Carlos Costa (Trimble Brasil), Fabíola Murta (ArcelorMittal) e André Brandão (Ficep). O consenso foi claro: a transformação digital é irreversível, mas só se consolida com integração, colaboração e, sobretudo, foco em pessoas.
Abrindo o painel, Varejão destacou o dilema atual: empresas tradicionais precisam modernizar processos para acompanhar a inovação, enquanto startups encontram espaço para atuar junto às grandes indústrias. “Estamos diante de uma grande oportunidade, mas também de um grande desafio”, provocou.
Para Carlos Costa, da Trimble, o excesso de dados no setor não se converte automaticamente em produtividade. “Geramos muitas informações, mas elas não se conectam em toda a cadeia. Falta continuidade, como numa linha de produção”, afirmou.
A solução, segundo ele, passa pela integração via APIs, conectando hardware e software, ampliando o uso do BIM e levando para o canteiro de obras recursos como realidade aumentada, realidade virtual e cloud computing. A IA surge como aliada para acelerar modelagem e execução, mas ainda há muito a avançar.
Já André Brandão, da Ficep, apresentou o impacto da Indústria 4.0 nas máquinas de alta performance. Com IoT e algoritmos de IA, elas monitoram dezenas de parâmetros em tempo real, encontrando padrões invisíveis à análise manual. “A IA aumenta a competitividade e otimiza a produção dos nossos clientes”, disse.
Na visão de Fabíola Murta, gerente de Transformação Digital da ArcelorMittal, a tecnologia só ganha força quando acompanhada do fator humano. A empresa, que iniciou sua digitalização em 2008, criou em 2019 o programa Ino.vc, conectando colaboradores, startups e universidades para fomentar inovação.
“A transformação começa com as pessoas. Não adianta ter a tecnologia mais avançada se não tivermos protagonistas nesse processo”, ressaltou.
Painel 3 - Construção Industrializada em estruturas leves – Rompendo paradigmas
O painel “Construção Industrializada em Estruturas Leves – Rompendo Paradigmas”, mediado por Fábio de Gerone, vice-presidente da área de Light Steel Frame (LSF) da ABCEM, reuniu especialistas para analisar a trajetória do sistema, suas vantagens competitivas e os desafios que ainda precisam ser superados para sua consolidação no Brasil.
De Gerone destacou que, desde a primeira edição do Construmetal em 2006, o LSF deixou de ser novidade para se tornar realidade consolidada em diversos países. Ele lembrou que o sistema representa cerca de 70% das construções de pequeno e médio porte em países como Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
“O desafio atual é romper de vez com paradigmas e consolidar o LSF como sistema convencional também no Brasil”, afirmou.

Participando de forma remota, Beda Barkokebas, professor da PUC-Chile, ressaltou que a construção industrializada não depende de um único material.
“O aço é altamente industrializado, mas também existem soluções em madeira e concreto. O ponto não é escolher um contra o outro, mas integrar soluções de acordo com cada projeto”, explicou.
No Chile, segundo ele, o avanço do setor foi possível graças à modernização da legislação e às parcerias público-privadas, fundamentais para gerar competitividade.
Renan Hessel da Cunha, diretor da Espaço Smart, destacou a visão inconformista da empresa diante dos métodos tradicionais de construção.
“O Steel Frame completa 100 anos desde sua primeira obra nos EUA. Para nós, é um sistema que propicia industrialização em alto nível”, disse.
Ele ressaltou a verticalização da companhia, que fabrica estruturas, perfis e complementos, investindo em BIM e capacitação. A empresa já figura entre as dez maiores varejistas do setor no país.
O engenheiro Marcelo Micali, da Framecad INC, defendeu que a regulamentação deve acompanhar a inovação, e não freá-la.
“Se Santos Dumont fosse esperar uma norma, não teria feito o avião”, provocou.
Ele destacou que, embora a norma brasileira limite o LSF a dois pavimentos, obras de até sete a nove pavimentos são tecnicamente viáveis e economicamente competitivas, sobretudo com soluções mistas que combinam concreto e aço leve.
Encerrando o painel, Camila Pimenta, diretora do Senai-SP, apontou a falta de renovação da mão de obra como um dos maiores desafios da construção.
“A idade média no setor está entre 38 e 42 anos. Onde estão os jovens? Se não revertermos esse cenário, teremos um grande problema de falta de mão de obra.”
Qualificação como chave - Senai lança cursos no Construmetal
Na oportunidade, Camila lançou o curso de Construtor de Edificações em Light Steel Frame, além de anunciar a primeira pós-graduação em Projetos de Estruturas Metálicas, prevista para 2026. As iniciativas buscam alinhar tecnologia, pesquisa e empregabilidade para acelerar a transição da construção tradicional para modelos industrializados.
Painel 4 - Transmissão de Energia Elétrica: Reforços, melhorias, ampliação e modernização
O painel "Transmissão de Energia Elétrica: Reforços, Melhorias, Ampliação e Modernização" discutiu a importância da autorização de "Reforços e Melhorias" no contexto da prestação adequada do serviço de transmissão de energia. O painel foi mediado por: Carlos Adolfo, coordenador do Comitê de Transmissão na ABDIB.
Os participantes do painel foram: Adriano de Andrade Barbosa (gerente de Engenharia de Instalações, representando o Operador Nacional do Sistema Elétrico – NOS), Fernando Cardozo (diretor de Novos Negócios e Transmissão na Eletrobras), Ricardo Nakamura (vice-Presidente de Torres na ABCEM/SAE Towers), de forma online, e Carlos Alberto Calixto Mattar (superintendente de Regulação dos Serviços de Distribuição na ANEEL).
Durante o painel, os especialistas discutiram os desafios e oportunidades na transmissão de energia elétrica, incluindo a importância da modernização e ampliação das infraestruturas existentes, bem como a necessidade de uma regulação eficaz para garantir a prestação adequada do serviço.
Painel 5 – Perspectivas e desafios da construção pesada em aço nos setores de mineração, óleo & gás e na infraestrutura
O painel "Perspectivas e Desafios da Construção Pesada em Aço nos Setores de Mineração, Óleo & Gás e Infraestrutura" discutiu as tendências e oportunidades para o uso de estruturas de aço nesses setores. O painel foi mediado por José Augusto Piechnik (vice-presidente na ABCEM/BRAFER). Participaram do debate Marcos Monteiro, secretário municipal de Infraestrutura Urbana e Obras da Cidade de São Paulo), Paulo Sergio Carreira, (gerente de Engenharia na Vale S.A), Lourenço Lustosa Fróes (coordenador do Programa para novos FPSOs na Petrobras) e Luiz Alberto Sette (diretor de Engenharia e Implantação da Via Apia Concessões).
Durante o painel, os especialistas abordaram os desafios e oportunidades para o uso de estruturas de aço em projetos de mineração, óleo & gás e infraestrutura, destacando a importância da exploração responsável e da inovação tecnológica para o desenvolvimento sustentável desses setores.
Lourenço Fróes mostrou quais os projetos da companhia estão em curso e que demandam o uso gigantesco de aço.
"A gente tem muita aplicação de aço nas plataformas de petróleo e nas refinarias. Na palestra eu mostrei os projetos de FPSOs que estão em execução. Atualmente, estes projetos utilizam em torno de 30 mil toneladas de aço e, daqui há cinco anos, se os projetos de FPSOs continuarem, atingirão um pico de 50 mil toneladas de processamento de aço", afirma. Lourenço Froes também mostrou os principais megaprojetos da Petrobras no momento, como a duplicação da refinaria do Nordeste e o polo Boaventura, no RJ, que conta com um grande programa de investimentos.
Painel 6 - Perspectivas e oportunidades para indústria da construção civil
O último painel do Construmetal 2025 reforçou a união entre indústria, academia e governo para impulsionar a construção industrializada.
Mediado pelo economista e jornalista da CBN Teco Medina. O debate reuniu especialistas para discutir os caminhos da industrialização e a relevância estratégica da construção metálica para o desenvolvimento econômico.
Participaram deste painel: Horácio Steinnman (Presidente na ABCEM), Rafael Passos Dickie (gerente no Departamento de Indústrias de Bens de Capital e de Consumo, Comércio e Serviços do BNDES), Ulysses B. Nunes (Diretor Executivo da ABCEM), (Catia Mac Cord Simões Coelho, consultora da ABCEM), Laura Marcellini, diretora técnica da ABRAMAT.
Este painel trouxe um debate franco e inspirador sobre os caminhos da construção industrializada no Brasil, ressaltando avanços, desafios e a necessidade de maior integração entre setor produtivo, instituições financeiras, academia e governo.
Catia Mac Cord Simões Coelho, consultora da ABCEM, destacou a relação direta da construção industrializada com quatro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tanto na esfera ambiental quanto social. Ela também reforçou a importância da formação de mão de obra e da parceria com o meio acadêmico, que, segundo ela, “mostrou grande entusiasmo e disposição em contribuir com soluções inovadoras”.
Ulysses apontou que, pela primeira vez, há uma vontade concreta do setor e do governo de industrializar a construção, mencionando programas como o Construa Brasil e a inclusão da industrialização em iniciativas habitacionais como o Minha Casa, Minha Vida. Também ressaltou o papel crucial da reforma tributária para criar isonomia entre a construção convencional e a industrializada, que hoje enfrenta desigualdade de alíquotas.
O BNDES, representado por Rafael, reforçou a mensagem de apoio às empresas brasileiras, estimulando o uso de financiamentos como ferramenta estratégica para modernizar parques fabris, adotar tecnologia 4.0 e fortalecer a competitividade do setor. Ele alertou que “o capital mais caro que existe é o próprio”, defendendo o uso inteligente de crédito de longo prazo.
Na sequência, Medina e outros debatedores lembraram que o país precisa comunicar com mais clareza as oportunidades disponíveis, sobretudo em áreas ligadas à produtividade, energia limpa e renovável. A falta de informação sobre linhas de financiamento e incentivos ainda é um entrave para muitas empresas.
Outro ponto central do painel foi a mudança cultural necessária para que o setor abrace definitivamente a industrialização e o ESG. “A nova geração mostra disposição em seguir esse caminho, mas é preciso dar suporte e manter a união entre entidades como Abramat, CBCA e Instituto Aço Brasil”, reforçou Cátia.
Já Laura chamou atenção para a importância da coesão setorial, destacando que o Brasil não terá uma única solução industrializada, mas sim diferentes combinações adaptadas à diversidade climática, cultural e logística do país.
Na oportunidade, o presidente da Associação Brasileira da Construção Metálica (ABCEM), Horácio Steinmann, encerrou o evento e celebrou o sucesso da edição. “Foram 650 credenciados, sessões tecnocientíficas que conectaram indústria e academia e uma exposição que mostrou o presente e o futuro da construção metálica. O Construmetal 2025 foi mais do que um encontro técnico: foi um marco de inovação, união e compromisso com o futuro sustentável”.
Contribuições tecnocientíficas
O Construmetal contou ainda as Sessões Tecnocientíficas, apresentações das contribuições selecionadas pelo Comitê Científico. Os trabalhos trouxeram avanços relevantes em temas como inovação, sustentabilidade, eficiência estrutural e novas aplicações do aço na construção civil.
Durante as Sessões Tecnocientíficas, os autores apresentaram suas pesquisas oralmente, em um espaço de troca entre profissionais, pesquisadores e estudantes.
Todos os trabalhos serão integrados nos anais oficiais do congresso, publicados em formato de livro eletrônico, e na Revista da Estrutura de Aço (REA).
O futuro da construção metálica
A 10ª edição do Construmetal confirmou a percepção de que a construção metálica deixou de ser um nicho para se consolidar como protagonista na modernização do setor da construção civil brasileira.
Ulysses Nunes, diretor executivo da Abcem, diz que por conta do êxito do Construmetal 2025, os coordenadores do evento já estudam aumentar o espaço de exposição da feira ou o número de dias do encontro para 2027. “Estamos estudando ainda o que faremos, mas a ideia é expandir o evento de alguma forma”, conta ele.
Por: Dayse Oliveira I Fotos: Francal- Keiny Andrade